terça-feira, 25 de novembro de 2008

O blog do português

Ele é um grande escritor, sem dúvidas um dos meus favoritos. Anda a escrever num blog, lá coloca suas opiniões sobre os mais diversos assuntos e pontos de vista que considero geniais. Lendo-o achei esses dois pequenos textos muito interessantes! Com vocês, José Saramago.


Dogmas


Os dogmas mais nocivos nem sequer são os que como tal foram expressamente enunciados, como é o caso dos dogmas religiosos, porque estes apelam à fé, e a fé não sabe nem pode discutir-se a si mesma. O mal é que se tenha transformado em dogma laico o que, por sua própria natureza, nunca aspirou a tal. Marx, por exemplo, não dogmatizou, mas logo não faltaram pseudo-marxistas para converter O Capital em outra bíblia, trocando o pensamento activo pela glosa estéril ou pela interpretação viciosa. Viu-se o que aconteceu. Um dia, se formos capazes de desfazer-nos dos antigos e férreos moldes, da pele velha que não nos deixou crescer, voltaremos a encontrar-nos com Marx: talvez uma “releitura marxista” do marxismo nos ajude a abrir caminhos mais generosos ao acto de pensar. Que terá que começar por procurar resposta à pergunta fundamental: “Por que penso como penso?” Com outras palavras: “Que é a ideologia?” Parecem perguntas de pouca monta e não creio que haja outras mais importantes…



Palavras

Felizmente há palavras para tudo. Felizmente que existem algumas que não se esquecerão de recomendar que quem dá deve dar com as duas mãos para que em nenhuma delas fique o que a outras deveria pertencer. Assim como a bondade não tem por que se envergonhar de ser bondade, também a justiça não deverá esquecer-se de que é, acima de tudo, restituição, restituição de direitos. Todos eles, começando pelo direito elementar de viver dignamente. Se a mim me mandassem dispor por ordem de precedência a caridade, a justiça e a bondade, daria o primeiro lugar à bondade, o segundo à justiça e o terceiro à caridade. Porque a bondade, por si só, já dispensa a justiça e a caridade, porque a justiça justa já contém em si caridade suficiente. A caridade é o que resta quando não há bondade nem justiça.

Um comentário:

André Rocha disse...

Gênios! Ai que ódio e inveja deles!rs...beijo!